Monday, August 18, 2008

(a música amava-a, explodia em alívio e cessava)

Gostava de se sentar no meio da estrada, de madrugada. Um carro passava de vez em quando no cruzamento ao fundo da rua, nunca virando.
Alice vivia numa rua calma, de poucas aventuras, paralela a uma grande avenida, e via os carros passarem ao longe, nunca virando.
Por vezes, os vizinhos que acordavam de noite viam-na pela janela, ali sentada. Achavam estranho sim, mas para Alice era normal. Não suportava dormir enquanto a noite se desenrolava sem ela. Por isso saía, com cuidado para não acordar os pais, e vagueava. Descia a rua, para de seguida a subir.
Lentamente, pois gostava de respeitar os tempos lentos das bandas-sonoras destas noites ao relento. Levava no ipod todos os suspiros do ambiente. Levava consigo as ânsias e expectativas, os medos e tensões.
Tudo ali, naquele espacinho só seu, e de todos.
(agora sentava-se na beira do passeio)
O céu cobria a terra de escuro. As estrelas sorriam-lhe. Deitava-se de tempos a tempos, voltada para o infinito, e fechava os olhos.
(a música amava-a, criava a tensão que a fazia encolher-se sozinha, explodia em alivío e cessava)
O sol nascia, um novo dia acordava.
O coração batia acelerado. Alice sorria.
Quem lhe dera que fosse assim até ao fim dos seus dias.