O Fim

Por entre as cortinas velhas da sala ele olhava a rua sombria. Olhava com medo. Os traços outrora serenos do seu rosto transformavam-se agora em rugas inquietantes e trémulas. Os batimentos cardíacos aumentavam mas, no entanto, as suas mãos permaneciam imóveis a agarrar a cortina, não espelhando o terror que o seu rosto evidenciava. Tinha de ser forte. Dez ou mais polícias cercavam quatro pobres homens que levavam no corpo todos os seus haveres. Modestos. Tristes. Corpos prestes a desaparecer no vazio da rua escura, beco da vida.
Com poucas e inaudíveis palavras, o regimento de polícias encaminhava os operários, cujos fatos cinzentos e gastos se viam agora debaixo da luz fraca do único candeeiro da Rua 41, para um camião preto. Entretanto um dos operários, como que sentindo que estava a ser observado, erguera a cara, olhos perscrutando as janelas…
Até que o viu, escondido por detrás da janela do prédio cinzento. Nada na sua expressão se alterara. Mudo, olhando agora para baixo, sentara-se num dos bancos laterais da traseira do camião.
Acabara ali.