Tuesday, May 20, 2008

parada

parada olhava para trás. e parada assistia ao desenrolar de toda uma vida.
sentou-se no passeio (mais confortável, achou, ainda só ia na infância), e inconscientemente brincava com as pedrinhas da calçada.
era giro recordar todos os momentos passados até ali, nostalgia da infância, vergonha da adolescência, maturidade da entrada na idade adulta. caramba tinha vivido tanto e no entanto tão pouco.
continuava sentada no meio da rua não se importando com as pessoas que se afastavam e olhavam reprovadoramente.
'e então? tou parada no meio da rua, que tem? só me sentei para não ficar cansada'
foge, que é maluca, ouvia-se. e realmente até parecia.

parada, onde é que já se viu?

parada olhava agora para o seu presente. pedaços mais próximos de incertezas do que das óbvias certezas do passado. como é óbvio.
a noite já se tinha instalado e ela continuava parada. via agora gotas de pensamentos futuros. exclamando de surpresa, tentou agarrar-se a elas, mas como gotas que eram de imediato fugiram por entre os seus dedos de unhas pintadas de nada. levantou-se num repente e correu. correu atrás das gotas. gotas que fugiam, gotas que riam, gotas de escárnio, gotas, gotas!
ah tanto correu ela, cansou o seu corpo, mas mais ainda a alma, essa espécie de vulto maculado de vestígios de humanidade. correu, correu, não voltando a agarrar as gotas de futuro. o seu futuro. ironia, o seu futuro fugia de si.
as gotas, o destino, o futuro, o fado.
desgastou o corpo, até ao fim. a alma voou.
fechou os olhos, e de novo ficou

parada.

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