Sunday, December 07, 2008

não era nada de mais, mas pronto. ou como dizia alguém, prontos.

Não era nada de mais, mas pronto. Ouvi alguém dizer que sim, que isto é que ia ser, e que se ia atirar com todas as forças e ia passar à frente de todos, que isto e aquilo, que mais algumas coisas também. Na minha opinião era chegar lá e pronto, não sei. Realmente a multidão aumentava, as pessoas comprimiam-se umas contra as outras e até insultos começavam a chover dum lado para o outro. Ai que tu és filho da não sei quantas, e tu vai para não sei onde, larga-me o ombro e chega-te para lá. Isto e pior, coitados dos honestos e das santinhas. E eu lá no meio, faça-me entender. As horas passavam, realmente chegar cedo nem sempre ajuda, havia quem chegasse largos minutos depois de mim e ousasse furar pelo meio dos inocentes. Como é que estes deixavam, não sei. Talvez estivessem mais interessados em contar os tostões e ver que realmente o trabalho não compensa, que passam largas horas em frente a balcões de instituições de serviço público, como aquela Loja do Cidadão, sítio horrível, diga-se, e que de facto se matam a trabalhar, a correr dum lado para o outro a aturar o patrão, e que no fim do dia chegam a casa mais cansados do que sei lá o quê, para ainda terem de fazer o jantar e pôr as crianças a dormir, que só não as foram buscar ao infantário porque era dia de ser o ex a tratar dos petizes. Realmente, filas destas nunca tinha visto. E já não era bem uma fila, era um ajuntamento de pessoas, como numa manifestação, que não é mais do que um ajuntamento de pessoas, mas fica mais bonito dar ares de intelectual de esquerda e fazer "manifestações" ou simplesmente "manifs". Bem, a hora por que todos esperavam lá ia chegando, e as tensões acumulavam-se. Senhoras a sentirem-se mal e a berrar, ai que se me falham as pernas e o meu Nelson fica sem Action Man, ai que lhe prometi um daqueles que é alpinista e se prende ao vidro com uma ventosa, coitado do meu Nelson, que até teve Suficiente + a matemática, diz a professora que deve de ser milagre o meu Nelson estar a atinar de uma vez por todas, que já é a segunda vez que está no quinto ano, fora os outros dois anos que quase que ia reprovando na primária, o meu Nelson. E com isto do Nelson da senhora ouve-se uma voz vinda não se sabe de onde a dar as boas-vindas ao novo shopping da cidade, enquanto as portas se abriam e a multidão lá entrava, que os 100 primeiros tinham desconto de 20% nas lojas de têxtil e artigos para o lar.
3 horas de espera e muitos cabelos brancos depois, lá me despachei rapidinho, que só queria umas lâmpadas novas para o candeeiro da sala, daquelas especiais de xénon, que por serem especiais não têm os 20% de desconto, se soubesse tinha ido ao Sr. Augusto, que é careiro mas não tem filas de 3 horas à porta.
Não era nada de mais, mas pronto. Ou como dizia alguém na fila, prontos. Uma pessoa às vezes tem de se misturar com o povo e desgastar-se, que depois quando se chega a casa tem-se um abraço apertado e um até que enfim, comecei a fazer aquela massa que tu gostas, trouxeste o filme para o serão? e aí sim, o dia esquece-se e nada mais importa. Só o filme, a massa com cogumelos e pedaços de salsicha feita por ela, e ela, de quem eu tanto gosto.

3 Comments:

Blogger Cataru said...

Gostava de conseguir compreender... Estes textos.. Estas palavras.

6:53 AM  
Blogger Ana Heleno said...

Perfeita a pluralidade de vozes. Andas a escrever bem.

12:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Transcendente como consegues encontrar na trivialidade do quotidiano toda essa poesia... Ela está lá, reconheço, porém apenas para olhos comos os teus onde a vida explode em cada segundo, e cuja responsabilidade é transmiti-la, decifrá-la, para todos os comuns dos mortais, vendados à nascença... Invejo-te.

9:19 AM  

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